Bem-Vindo! / Welcome!
18
/ Fevereiro / 2015
(Quarta-feira)
Querido
diário,
Por
conta do ocorrido ontem, meus colegas de classe ficaram me encarando de forma
estranha, como se tivessem medo de mim. Fiquei incomodada com isso, mas é algo
aceitável de se acostumar, afinal nem todos ali realmente me conhecem. A Nicole
percebendo que estava desconfortável na sala de aula me pediu desculpas, e
disse que era bobagem. E realmente é. Não sei bem pelo que ela passa, mas sei
que não deve ser nem 1% do que estou passando.
Minha
primeira aula foi sobre Encantamentos com o Senhor Yacamin Uirandi, ele é um homem bem bonito com cabelos bem
cumpridos e tão brilhantemente lisos de dá inveja. Ele me lembra um pouco o
pajé da tribo que mora minha avó, pelo menos nas vestimentas.
Hoje
ele nos explicou sobre um feitiço considerado muito avançado e feito apenas por
bruxas e bruxos de nível de mágica extremamente avançados. O qual chamou de Patrono, onde se invoca uma força de
energia positiva para defesa pessoal, sendo essa força normalmente representada
por um animal guardião. E como somos de um nível aprendiz, ele nos ensinou um
feitiço ramificado não muito difícil de como acessar esse guardião para pedir
orientação ou para quando nos sentirmos sozinhos.
Os
guardiões de cada um estavam representados no animal de poder esculpido em
nossas varinhas presenteadas no ritual da árvore da vida. E para acessarmos
essas orientações vindas deles tínhamos que entrar em um modo de meditação e
recitar algumas palavras como se fosse uma oração. Palavras essas que surgiram
da minha boca sem que eu tivesse pensado nelas antes ou decorado de algum lugar.
Fui agraciada de uma paz exorbitante e realmente ali eu sabia que nunca estaria
sozinha.
A
segunda aula foi com a Senhora Verena Schultz,
uma moça alemã de olhar bem firme e amedrontador. Ela dá aula de Defesa contra
a arte das trevas, e hoje fomos todos atrás da torre principal, à frente a
quadra de Quadibol para uma aula ao ar livre. O Capelobo apareceu e nos disse
que a professora o pediu que servisse de cobaia para aprendermos um novo
feitiço, e que estava honrado em ajudar.
O
feitiço que aprendemos hoje foi “Expulso”,
onde podíamos repelir algo em que a varinha fosse apontada. Nossa lição era bem
simples, tínhamos que afastar o Capelobo de nós até ele ultrapassar uma linha
de giz feito pela professora. Depois de tudo explicado, ele tomou uma forma bem
assustadora! Estávamos todos acostumados a vê-lo todo social e bem-educado, e
naquele momento parecia uma besta incontrolável pronta para nos matar!
Mas
apesar de todo medo que estava sentindo, consegui me sobressair nessa lição e
afastar o Capelobo atrás da linha. Juan também conseguiu quase que no mesmo
tempo que eu. A Nicole não se saiu muito bem, ela não conseguia mirar para usar
o feitiço com maior maestria.
Após
o jantar, o Juan veio nos visitar no dormitório feminino, coisa que é proibida
na escola, mas ele sempre conseguia entrar sem ser visto. Mistérios a parte,
ele veio nos contar que após nossa aula de defesa com a professora Verena, ele
voltou pro campo de treinamento para pegar um botão que soltou do seu uniforme
e simplesmente viu a professora e o Capelobo SE PEGANDO! Isso mesmo, rostos
colados e troca de salivas! Eu e a Nicole rimos muito do modo que o Juan nos contou
detalhadamente, e ficamos conversando algumas besteiras até uma garota do
quarto ao lado bater na parede e pedir que falássemos mais baixo que já se
passava das 1:20 da madrugada.
Juan
foi para o seu dormitório, e logo a gente pegou no sono. Só bastou fechar meus
olhos que tive o sonho mais estranho da minha vida. Eu só conseguia ver um
homem barbudo e seus olhos eram fundos e borrados, e usava um uniforme daqueles
de barão português, escuros como a noite. Então ele ergue um de seus braços e
aparece CasteloBruxo totalmente destruída, com gritos ao fundo e uma gigantesca
chama vindo da torre principal.
Suando
frio eu acordei ao me ver sangrando no sonho, e o mais estranho era que meu
corpo estava em transe, só conseguia mexer meus olhos. Tentei desesperadamente
acordar a Nicole para me ajudar e foi sufocante não conseguir movimentar a
boca.
No
outro dia, preferi não contar para ninguém o que tinha acontecido, tanto para
não preocupar ninguém ou para não acharem que sou louca. Afinal, tudo não
passou de um pesadelo comum.
Mariana Aram.
CASTELOBRUXO - DIÁRIO #7
Gente, vi essa Tag criada pelo Rodrigo Falco e fiquei com muita vontade de fazer! Mas como eu não me sinto nem um pouco a vontade gravando videos, vai ser em texto mesmo.
Let's Go!
Assim como muitos artistas que conheço, eu desenho desde criança. Nada dessa história de dom. Eu comecei junto com várias crianças na escolinha e só que diferente delas, eu me esforçava mais e praticava sempre, porque ilustrar é algo que faz o meu coração vibrar de alegria!
2. Qual é o seu estilo de Ilustração?
Mangá! Mas especificamente o Chibi <3
3. Que estilo ou técnica você nunca usou e gostaria de usar?
Aquarela, sem dúvidas. O próprio canal do Rodrigo tem uns speed paintings que te faz ter esse desejo de usar aquarela. *_*
4. Qual material você não vive sem?
Agenda. Nela eu tenho anotado todas as ideias que tenho de quadrinhos, de ilustrações, textos de encorajamentos, metas, sonhos, planejamento de tudo que tenho que fazer durante as semanas.. e por aí vai.
5. Qual a ilustração feita por você que mais te orgulha?
Confesso que não tenho nenhuma em especial, todas me orgulham de alguma forma, seja quando aprendo a fazer tal pose, tal efeito e etc. Mas vou escolher esta que é recente do Suhn (Acquine) e da Mariana (Castelobruxo - Diário):
6. E qual ilustração feita por você te deixar envergonhado por algum motivo?
Esta encomenda:
Porque quando eu recebi as referências dos personagens, eu jurava que o garoto era uma garota e fiz um rascunho como se fosse um casal de lésbicas.. Foi um pouco embaraçoso quando mostrei para cliente.
7. Qual é a sua ilustração mais antiga?
Procurando nos fóruns que postava meus desenhos, achei esses dois de 2012 no fórum do Dpzine Mangá:
Um casal avulso e As Guerreiras Mágicas de Rayearth!
Naruto. (Ainda é legal ser chamado de Otaku? ) Ficava imaginando como seria ser um ninja e ter poder! Junto com alguns amigos, nós criamos toda uma vila com caixas de papelão e vários bonecos de personagens autorais, e passávamos dias inteiros brincando.
9. Qual personagem de desenho animado mais representa você?
Frosch, o exceed fofinho de Fairy Tail . Ele é tão amorzinho, e representa o tipo de pessoa que eu gostaria de ser.
Voltando para Naruto, eu gostaria de ter criado a Tayuya. Ela é tão foda e foi tão mal aproveitada..
11. E qual é o seu artista inspirador favorito?
Apesar de estar atraso em vários personagens, Minha artista favorita do momento é a Rebecca Sugar! Steven Universo é tão GENIAL!!
12. Qual a sua principal dica para quem está começado?
Desenhe até a mão sangrar! Sério gente, não tem formula mágica, é praticar. O aprendizado é constante, e na internet o que não falta é tutoriais.
Falando em tutoriais, eu estou devendo um para vocês.. Não se preocupem eu farei sim, em breve! E para os ilustradores que curtiram a Tag, vá já responde-la de alguma forma!
Até!
TAG: Eu, Ilustrador!
17
/ Fevereiro / 2015
(Terça-feira)
Querido
diário,
Minha
primeira aula de hoje foi de Herbologia. Quando recebemos a grade curricular do
1° ano pensei que seria uma das matérias mais chatas, mas também qual a graça
de estudar sobre plantas? Aprendi que elas são bem importantes nas aulas de
poções com a professora-vampira, porém mesmo assim chatas. Já existem tantos
tipos no mundo “humano” que nem sei nem 10%, e agora existem mais tantas no
mundo mágico.
Era
assim que eu pensava, até que fomos apresentados a algumas espécies
fascinantes, tinha uma que parecia um bebê que se puxasse da terra, gritava
tanto que poderia sangras os ouvidos de qualquer um! Elas são chamadas de mandrágoras, e eu só imaginava poder
pegar uma e plantar na casa da minha vizinha lá da favela, ela é um verdadeiro
pé no saco e reclama o tempo todo. Mas pensei melhor quando o professor disse
que poderia chegar a matar um ser humano, e apesar dela ser desagradável, não
mereceria morrer.
As
aulas são ministradas em uma estufa enorme do lado da torre principal, onde tem
uma pequena escadaria de acesso. Alguns alunos sempre pegam os atalhos, o que
no caso me inclui. Apesar de que eles normalmente foram feitos para alunos
cadeirantes, ou desabilitados poderem se movimentar pela escola. Não tenho
culpa se são divertidos de se usar.
O
professor de Herbologia se chama Isidro Helmmen,
ele é um senhor bem tranquilo e empolgante, deve ter lá seus quase 50 e poucos
anos, aparentemente “normal”. O que gosto nele é o jeito que dá aula, tem tanta
paixão nas plantas e tanto cuidado, como se estivesse cuidando de um
recém-nascido.
No
intervalo, Juan, Nicole e eu fomos para a sala de interação do 1° ano, onde a
Nicole nos ofereceu um chocolate chamado “Afego Angelical” – eu sei, é um nome
bem idiota. E como ele só vendia no mundo mágico, sabia que precisava muito
experimentar! O gosto não era muito diferente de um chocolate ao leite comum,
mas quando você morde é tão macio, e quando mastiga parece estar comendo
algodão doce. O nome pode ser bobo, mas faz um pouco de sentido.
Nossa
segunda aula foi de Magizoologia, diferente da aula de Herbologia, eu já
esperava que descobrir sobre animais mágicos seria algo incrível! E realmente
é. Nossa professora se chama Urbi Alika,
ela se parece muito com aquela atriz famosa Lupita
Nyong'o. Ela veio da África dar aula em CasteloBruxo. Foi formada na escola
de lá que se chama Uagadou, e veio
para o Brasil se especializar nas criaturas mágicas da Amazônia. O mais curioso
sobre ela, é que não usa nenhuma varinha para fazer qualquer feitiço, e uma vez
o Juan a perguntou como isso era possível e então explicou que na escola que
ela se formou, lá o uso de varinha é totalmente opcional, e que quase ninguém
usa.
Enfim,
hoje finalmente conheci as famosas Ruínas de Paricatuba. Onde pessoalmente é
tão mais fascinante do que por fotos. A professora explicou que não ficaríamos
lá por muito tempo por contas das pessoas não-mágicas nos verem de uniforme da
escola e pensar que somos de alguma seita maligna ou algo do tipo. Já que ali
era um local turístico bem conhecido.
Começaram
então a aparecer umas criaturas pequenas bem peludas e sapecas, que fizeram a
maior bagunça! Ficaram puxando nossas roupas, pegando a varinha de alguns e
puxando o cabelo de algumas meninas. A professora então explicou que eram Caiporas, e que protegiam os arredores
da escola a noite. Me senti um pouco enganada, cresci vendo a caipora sendo
representada por uma índia pintada de vermelho e poderes mágicos, como no Castelo-Rá-Tim-Bum.
Não um cachorro peludo fora de controle.
O
fim da picada, foi quando uma caipora puxou os cabelos azuis da Nicole. Ela já
havia me dito que era apaixonada por perucas coloridas, e importava muitas de
personagens de anime, já que é fascinada por esse universo de cosplayer. Então
ela mantinha seu cabelo bem baixo para não dar muito volume. A peruca azul dela
então foi destruída por vários caiporas, e seus olhos encheram de lagrimas ao
ver que todo mundo estava a encarando chocados, e antes mesmo da professora
fazer alguma coisa, tomei a peruca das caiporas e as encarei fixamente com a
testa franzida, como quando eu fazia quando os gêmeos que cuidava aprontavam. E
então as caiporas foram distanciando, e para demonstrar um pouco de poder eu berrei:
-
FORA DAQUI! – E todas as caiporas
saíram correndo, e a atenção dos alunos se voltaram para mim. Entreguei a
peruca, e a professora nos levou de volta para a escola. No caminho, a Nicole
me perguntou o porquê de ter feito aquilo, e expliquei que era porque somos
amigas, e amigas protegem uma a outra. Ela deu um sorriso bem tímido, dava para
perceber que ela não possuía muitos amigos, ou entendia o que era realmente ter
um.
Para
quebrar o clima, eu disse que ela estava parecendo uma baranga com a peruca
toda destruída pelas caiporas que insistiu ainda em usar.
Mariana Aram.
CASTELOBRUXO - DIÁRIO #6
16
/ Fevereiro / 2015
(Segunda-feira)
Querido
diário,
Hoje
já fazem 15 dias que estou na nova escola, e como era de se imaginar aqui não
temos aulas de português ou matemática, o que é maravilhoso! Nada de frações!
Minha
primeira aula é sobre a História da Magia, posso ter me livrado de contas
matemáticas, mas estudar sobre a 1ª e 2ª guerra mundial jamais. Há uma
equivalente chamada “Guerra Bruxa”, e assim como a dos não mágicos eu espero
que não aconteça a 3ª. Ou que pelo menos eu não esteja viva se ocorrer.
O
professor dessa matéria é entediante, é preciso muito esforço para não cochilar
durante a aula. Seu nome é Pebras, um anão que mede mais ou menos 1,20 m, calvo
e com um óculos do tamanho de sua cabeça. Nossa sala de aula fica no segundo
andar da torre principal, onde há 5 salas dividas em letras assim como na minha
escola da favela, de A à E. Meu nome foi sorteado para a turma A, junto com o
argentino que conheci no primeiro dia que se chama Juan Cuesta e a Nicole
Velasques que divide quarto comigo.
Terminado
a 1ª aula, fomos dispensados para um pequeno intervalo, e então desci por um
atalho escorregador para a entrada da escola. Gosto de ficar observando como os
alunos se comportam e comparar com minha antiga escola, o que aliás não muda
muita coisa. Como a escola recebe alunos de toda a américa latina, existem as
turminhas de cada país, o que é bem irritante! Dos brasileiros, ainda tem uma
turminha dentro da turminha, que são um pequeno grupo de índios que olham torto
para todo mundo e vivem andando descalços. Já vi o Capelobo dando sermão em um
deles na semana passada, mas pelo que vi é perca de tempo.
Lembra
quando disse que na entrada existia um enorme lago com rochas no meio? Ele é o
lar de nada mais, nada menos que da IARA!
Sei que era de se esperar, já que quem comanda as embarcações da escola é um
curupira. Mas foi incrível a primeira vez que vi, se alguém me dissesse nunca
acreditaria. Ela é enorme, mas enorme mesmo! Uma sereia-gigante! Com uma cauda
que quando bate a luz do sol brilha mais que o ouro das paredes ou do chão. Sua
voz é coisa de outro mundo, não conseguiria descrever. Apenas que depois que
cantou no 2° dia de aula, todo mundo começou a se entender. Agora quando
converso com o Juan, consigo entender tudo o que diz como se estivesse falando
português.
Passando-se
o intervalo, todos foram para suas devidas salas. Minha 2° aula do dia é de
poções, então levei o caldeirão que comprei junto com minha avó. Cheguei na
sala, todos estavam esperando o professor, até que as paredes começaram a fazer
um ruído estrando. Todas as paredes da sala há prateleiras sobrecarregadas de livros,
e então elas começaram a descer e foram surgindo novas paredes, só que vazias e
um novo pequeno altar onde fica o espaço do professor junto a lousa. No
primeiro dia de aula foi assustador, agora todos já estávamos acostumados com
essas salas mágicas que mudam conforme um novo professor vem dar aula.
Pela
porta enfim entra a professora de poções, uma senhora de pele pálida, cabelos
bem compridos amarrados em um rabo de cavalo e olhos claros, que por um breve
momento pensei serem vermelhos. Nada me faz tirar da cabeça que ela seja uma
vampira!
Hoje
ela entrou com duas malas em mãos e as colocaram sobre sua mesa, e puxou dois
pequenos olhos que ainda estavam vivos. Eles se mexiam pra lá e pra cá
freneticamente. Bizarro! E então a
professora, que aliás se chama Eloá
Grimmar, disse que íamos aprender a fazer uma fonte de luz caseira com
olhos de Bicórnio.
Após
misturarmos com algumas plantas de nome estranho, ela ergueu sua varinha e
disse “Nox”, apagando todas as luzes da sala deixando tudo escuro, onde podia
se ver quem havia conseguido o resultado da poção. Os que conseguiram, o que me
inclui, a luz caseira era como uma lâmpada incandescente o que não dava para
ficar olhando diretamente por muito tempo. A professora explicou que ao usarmos
o olho de Bicórnio, a cor da luz que era branca pode ficar totalmente vermelha
caso algo de ameaçador esteja se aproximando.
Ao
fim do dia, fui para o meu quarto revisar um pouco do que havia estudado. Não
que eu seja uma nerd ou coisa do tipo, mas é que realmente quero me esforçar
para ser a melhor bruxa que conseguir ser, e poder dar orgulho para meus pais e
minha avó, e claro poder honrar a varinha que me foi presenteada.
Mariana Alam.
CASTELOBRUXO - Diário #5
02 / Fevereiro / 2015
Querido
diário,
Nada
se compara com as experiências que tive em apenas um dia em CasteloBruxo! Na
escola onde estudava, ainda me lembro um pouco quando entrei. Sempre me achei
estranha das outras pessoas e não tinha mínima vontade de socializar com
ninguém. Ainda acho incrível como eu criei um laço de amizade com a Cristina,
mesmo com minha personalidade. A companhia de crianças mais novas que eu, sempre me
agradou, porque não eram tão influenciadas pela maldade humana, elas tem brilho nos olhos e não transmite tanta negatividade encontrada na maioria dos adultos.
Enfim....
Quando desembarcamos na escola, seguimos por uma estrada de pedras douradas bem
iluminada, e o Capelobo estava nos aguardando. Me pergunto como ele chegou tão
rápido, e carregando as malas de todo mundo. Nos deu as boas-vindas e começou a
dizer algumas normas a ser seguida, mas não prestei muita atenção, o cenário em
volta de nós era encantador. Havia monumentos dourados por toda a parte,
árvores e plantas bem cuidadas, no centro em círculo havia um enorme lago com algumas
rochas no meio. Frente a esse lago tinha uma escadaria a perder de vista e no
topo tinha um castelo que podia ser visto na metade do caminho à barco.
O
Capelobo nos disse que o salão onde iriamos ficava dentro do castelo principal,
e um dos alunos replicou dizendo que levaria horas até chegar ao topo. E então
sorrindo, ele tocou uma pedra na parede ao lado da escadaria onde se abriu uma
porta, fomos entrando um por um, e se ouvia gritos e depois risadas bem
distantes. Quando chegou minha vez, minhas pernas tremiam mas consegui caminhar
até a porta. Assim que entrei uma corrente de ar me impulsionou para cima e
entendi o porquê dos gritos e das risadas no final das contas. Estava tudo
muito escuro no atalho e então avistei uma saída surgindo, e eu sai do chão de uma sala e
flutuei, e o buraco por onde tinha saído se fechou e aterrissei sem nenhum
arranhão. Por fim, o Capelobo chegou e nos levou até o salão principal.
O
salão é circular, quando se entra logo se vê uma árvore enorme no centro e seus
galhos e folhas ocupando quase toda a sala e o teto. Abaixo desta árvore, tem
um palco de um pouco mais de 1 metro de altura, onde tinha uma mesa com todos
os professores da escola, e no centro uma mulher com um longuíssimo vestido
verde escuro, parecido com esses de noiva de cauda longa. Frente a ela e a nossa
também havia quatro mesas na horizontal. Nos cantos da direita quanto na
esquerda do salão havia dois andares cada com mesas enormes e com alunos
veteranos já nos aguardando.
A
mulher de vestido de noiva verde se chamava Valentina Dourado a diretora da escola, e depois de nos cumprimentar e parabenizar por estarmos ali, nos contou que a árvore no centro do salão era uma Samaúma, considerada sagrada e mãe de
todas as árvores, por ser um presente vindo dos céus para as tribos indígenas
que viveram ali. Após a explicação, Valentina recebeu um papel com o nome de
todos nós, e um a um foi chamando ao palco para o ritual da árvore da vida, (como nomeou ela) para receber sua varinha.
Chegou
a minha vez, fui caminhando pelo salão, subi a pequena escadaria a minha frente
e fiquei de frente a árvore. “Estenda sua mão” disse Valentina, e obedeci. E
então um dos galhos da árvore floriu brotando uma varinha que repousou em
minhas mãos. Minha varinha havia formato de um totem de águia, como a que
apareceu na janela do meu quarto.
Ao ver minha varinha, Valentina sorriu e disse que o símbolo da águia
representava que estava destinada a grandes responsabilidades, e que somente
pessoas de alto cargo na comunidade bruxa brasileira possuía a águia como
animal de poder. Ela puxou sua varinha e lá havia uma águia entalhada como a minha. Desci as
escadas pensando sobre o que ela disse, e notei que as varinhas dos outros
alunos eram de animais diferentes, e até onde eu vi, era a única com esse tipo
de varinha.
Depois
do ritual, fomos jantar e tudo parecia com um gosto diferente do normal, tão
suculento e suave de mastigar. Fome saciada, fomos separadas dos meninos para
os dormitórios, onde sobre nossas camas já estavam nossas malas (Capelobo atacando novamente!). Haviam vários
quartos duplos com camas de casal e uma sala de interação. Nada de beliches, e
as camas são bem macias e quentinhas. Todas as outras meninas haviam uma
parceira de quarto, menos eu. Então fui tomar banho para descansar o corpo, e deixei para me preocuparia com isso outro dia.
Banho
tomado, fui até a sala de interação ver se havia algum livro para ler, já que
não estava conseguindo dormir. E no sofá estava uma menina deitada, com as
malas jogadas no chão. Dormia tranquilamente com seus cabelos azuis em tom pastel cobrindo seu rosto, e deu para ver que usava uma
gargantilha no pescoço com um pingente brilhante que de jeito nenhum parecia bijuteria. Tentei passar sem acordá-la,
mas acabei esbarrando em um abajur e ela levantou assustada.
Passado
o susto, sentei para conversar com ela e a perguntei porque estava ali deitada,
e me explicou que haviam colocado suas malas no dormitório masculino por conta
do seu nome em registro. Nada de nome unissex, ela se chama Nicole, e se tratava apenas de uma garota transexual. Ao me
contar seus olhos lacrimejaram, mas manteve sua postura de durona, e eu a puxei
pelos braços e peguei uma de suas malas e lhe disse que havia uma cama sobrando
no meu quarto e que adoraria tê-la comigo. Ela então sorriu limpando os olhos e
carregou as malas para o quarto. Ficamos conversando horas a fio, descobri que
era filha de um fazendeiro muito rico em Goiás, mas que morava com uma tia em
Brasília, já que sua mãe é falecida e seu pai não lidou muito bem com sua
transição. Notei que isso a afetava, mas não quis comentar nada sobre.
Ah,
e a limousine que citei ontem era dela. Quem diria que em meu primeiro dia na escola nova faria amizade com uma patricinha...
Mariana
Alam.
CASTELOBRUXO - Diário #4
01 / Fevereiro / 2015
Querido
diário,
Tudo
está acontecendo tão rápido, e me sinto muito ansiosa com todo esse mundo novo
que se abriu diante dos meus olhos. Enquanto escrevo isto estou na Amazônia
dentro de um barco em direção à CasteloBruxo, com outros nove alunos e um
condutor. No meu lado sentou um argentino que jura que eu falo espanhol e não
para de falar desde que partimos, mas já chego nessa história.
Ontem,
eu cheguei em casa depois das compras com minha avó e fui logo esconder em meu
quarto para que meus irmãos de jeito algum vejam. Quando estava arrumando
minhas malas, minha mãe abriu a porta do quarto para me entregar alguns casacos,
e meu irmão mais velho Vitor viu a vassoura sobre minha cama e gritou meu irmão
do meio Paulo para ver. Logo entrei em desespero com os dois rindo de mim,
fazendo brincadeiras sobre bruxas e coisas do tipo. Meu pai surgiu atrás dos
dois com uma cara totalmente fechada e assustadora, que fez com que eles se
calassem e fossem embora. Que alívio.
Então
meu pai me deu uma mala antiga dele, de quando ele estudava em CasteloBruxo, a
vassoura entrou com tamanha facilidade e as demais coisas grandes também que
comprei. Se bobear caberia os corpos da minha família toda dentro. Fui para
sala, e meus pais me ajudaram a carregar as malas, e lá estava no sofá sentado
o Virgílio, o taxista de ontem. Em sua frente estava Cristina, minha melhor
amiga o encarando. Logo ela veio me abraçar com lágrimas nos olhos, o que
também me fez lacrimejar. Ela falava sem parar sobre o quanto ia sentir
saudades de mim, que a escola não seria mais a mesma e que ali estava perdendo
metade do seu coração. Bem dramática eu sei. Não consegui dizer muita coisa a
ela, mas a alertei sobre ter cuidado com o que faz ou fala perto do seu gato de
estimação. Ela ficou em dúvida sobre o que disse, mas a aliviei quando disse
que voltaria em alguns feriados prolongados para casa.
Despedi
dos meus irmãos, que bagunçaram meu cabelo, e pela primeira vez em muito tempo
vi meu pai com os olhos cheios de lágrimas, minha mãe como sempre muito
emotiva, desabou em choro. Virgílio então colocou minhas malas no táxi e
seguimos viagem, antes de partir ele me disse:
-
Espero que tenha aproveitado sua vida normal, jovem bruxinha. Quando retornar,
nada mais será como antes.
Fiquei
em silêncio durante toda a viagem. Então fomos adentrando um antigo aeroporto,
e o táxi foi indo pela rota usada por aviões. Quando fui abrir a boca para
perguntar o Virgílio o que faríamos ali, ele me disse para apertar os cintos e
o táxi levantou voo. Ele viu meu encantamento com aquilo e resolveu dar uma
volta sobre o Cristo redentor, o que foi incrível! E o mais impressionante,
ninguém parecia estar nos vendo.
A
viagem foi um pouco demorada, e acabei cochilando. Só fui acordar quando o
motor do táxi fez um barulho e começamos a descer. Aterrissamos em um local
rodeado de mata fechada com vários carros estacionados, podia jurar que vi uma
limousine. Desci do táxi e quando peguei minhas malas, outras mãos as seguraram
e virei para trás para ver quem era e me deparei com um homem grande vestido
todo formal, como se fosse um conde, com a logo da escola em seu peito. Mas o
mais impressionante era que seu rosto era idêntico a de um tamanduá, com
focinho cumprido e tudo mais! Ele pediu licença e levou minhas malas, Virgílio
riu de mim e explicou que ele era encarregado por levar as malas dos alunos
para os dormitórios. E seu nome era Capelobo,
e apesar de parecer um pouco assustador ele é bastante dócil e gentil.
Despedi
de Virgílio, e todos os veículos começaram a decolar, e os alunos começaram a
caminhar por dentro algumas árvores e os segui. Chegamos à beira de um rio e um
senhor grisalho nos deu as boas-vindas. Me aproximei para poder vê-lo melhor e
seus pés eram virados para trás! Pediu que o chamássemos de Obiru, confesso que quis rir quando se apresentou, e não foi só eu.
Já estava escurecendo e então ele apontou sua varinha para nós, o que nos
assustou muito, e várias chamas saíram da ponta nos cercando e iluminando o
local. E então ele apontou para cima e das copas das árvores foram descendo
cipós e ao encontrar com a água do rio foram tomando forma de barcos. Foi lindo
de se ver.
Logo
Obiru subiu em cima de um dos barcos para observar tudo, todos estavam
alinhados, e cada chama se posicionou frente a um barco para iluminar a viagem.
A capacidade em cada era de 10 pessoas, e como estava na frente fui uma das
primeiras a entrar, e como disse no inicio um argentino sentou do meu lado.
Achei que seria educado da minha parte lhe cumprimentar, não sei quase nada de
espanhol e arrisquei dizer um “Hola”, e ele abriu um belo sorriso. Confesso que
o achei bastante atraente, mas me arrependi de cumprimenta-lo, porque desde que
embarcamos ele não para de falar comigo, e como não o entendo e ele não para de
sorrir, acabo sorrindo junto para não parecer mal humorada.
Situação
bem constrangedora, mas mal posso esperar para desembarcamos na nova escola.
Mariana
Alam.
CASTELOBRUXO - Diário #3
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